quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Adoravelmente (para V.F.L.)

Eu adoro simplesmente tudo em você
A toalha molhada da cor da tua pele
Teu pijama, teus lençóis, tuas coxas
Adoro a fronha do teu travesseiro,
Porque tem o cheiro do teu cabelo
Teu espelho, quando reflete o teu sorriso.

Adoro as tuas marcas de nascença
E as que o teu corpo conseguiu com a vida

Adoro sentir o gosto de tabaco
Do cigarro que passou pela tua boca
E pela ponta do teu dedo num leve tocar

Adoro quando a tua lua brilha lá fora
Para que você saia na madrugada enchendo a noite

Adoro a tua meia-luz
Que acende o teu rosto, peito e pernas
E tudo se torna adoravelmente seu
Quando você olha, toca, se encaixa...



Adoro que você tenha parado de roncar.

Baile de corais

se você vier até a beira do mar
para ouvir o som das conchas
e o sol queimar o teu rosto
Não te aflijas
a chuva mais doce se precipitará
num beijo de água viva.

Fragmento de carta nº I (O Desejo)

...
isso me faz lembrar que entre a direita ou a esquerda, existe a possibilidade de ir além do em frente, pode-se sempre ir mais alto. Mesmo que o mundo tenha deixado muito dos seus códigos em mim - muitas vezes em nem percebi ou não pude evitar e por isso o medo, por isso a mágoa - haverá sempre um suspiro, um espanto. Minha essência acaba encontrando um viés para vida, me retomando e me reescrevendo para que eu tenha aptidão àquilo que todos queremos; momentos bons e felizes.

Fragmento de carta nº II (Os detalhes)

...

melhor falar em sentir-se bem.
Eu descubro que a resposta está nos detalhes.
O êxtase é fruto da simetria que acontece entre duas pessoas e os detalhes surgem como manifestação material da conexão de duas almas que se olham e se entrelaçam. Um olhar, um gesto, um passeio em silêncio: os detalhes mostrarão que estes seres estão em sintonia, fazendo bem da única forma que se pode fazer verdadeiramente bem: mutuamente bem.

Fragmento de carta nº III (A Primavera)

Tenho o meu Jardim
Você os seus girassóis

Falta é chegar o tempo em que teremos a Primavera,
estação de todas as flores.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Um dia

Como foi o seu dia?

Gostaria de começar dizendo que encontrei abertas todas as portas. Fui à igreja e, sim, tive a completa absolvição. Os meus pecados foram motivo de piada, os meus trocados foram suficiente para, em casa, num fluxo leve, ser envolto pelas páginas corridas em horas muito bem gastas num infindável ethos liberdade. Eu tive o meu socorro imediatamente, me parecia algo duradouro. Eterno? Quem sabe?

O rio da minha vida se definiu assim agora: qualquer limite só é imposto pelo meu coração que vaga pelas praças cheias de som e fúria. O canto dos passáros norteou os meus pensamentos, só assim pude me sentir seguro neste dia claro em que a cidade, implacável, já não me culpava pelo meu constante estado ébrio que diz sempre sim em solidariedade aos meus desejos mais profundos. De uma forma incrivelmente diferente não tentou me enquadrar, me emoldurar, como um quadro que representasse a realidade.

Que realidade?

Os múrmurios nas filas, as olheiras, os olhares, a cegueira completa e irremediável?

Não quiz mais pensar nisso. Pensei no fogo dos olhos vivos e entregues a um oceano numa tarde qualquer enquanto os homens trabalhavam.

Aconteceu algo diferente hoje: eu não precisei dissimular o meu amor e o deslumbre que me causa uma febre delirante fazendo ceifar cada vaso de sangue desse corpo alimentado por uma raiz firmada num chão infinito.

Eu vi tanta verdade naquele rosto ingênuo. Logo o dia perdeu aqueles tons degradês de nostalgia e foi composto por um amarelo forte, formado por uma compilação de micro-tons do fundo dos sonhos. Duarante a noite eu poderei dormir em paz, despertar e voltar para o mesmo sonho tanto quanto quiser.

O meu dia foi inexplicavelmente diferente, foi algo como perder a cabeça, mas os meus sentidos eram ageis e eu podia percerber tudo que estava obscuro, tudo que me foi velado, toda a farsa em que eu vivia, vi isto plenamente e como uma inigualável nova verdade.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

teu bendito fruto
quero quente
como um
licor




Folhas secas
vão cair
dos teus
olhos

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Tamarindeiro

Sigo um rastro e no entanto o meu intento de encontrar uma estrada cercada de tamarindeiros confunde às vezes o meu pensamento. Não sei se me entrego aos tamarindeiros ou se fico em casa, sentado à mesa, escrevendo artigos em folhas secas. E além disso, tem o mar lá fora. O mar é a voz doce do cantor que ouço no rádio; me tira os pés do chão e me faz viajar distante. Vivo num barco sem norte que navega tortuosas travessias e por isso mesmo busco os meus bosques para que me protejam as árvores, para que eu possa respirar.

Então me sento à mesa e escrevo fantasias sobre lugares do fundo da minha lembrança em folhas que voam pela sala. Fico a me perguntar se quando eu morrer ainda sonharei com o tamarindeiro? Terei eu as raízes firmes na terra e darei o meu fruto para alimentar outro alguém?

sábado, 23 de janeiro de 2010

Acalanto (Música)

Onde você vai
Meu passo vai logo atrás
Longe você foi
Meu acalanto vai
Meu acalanto vai
Perto como estou
Eu poderia mergulhar mais
Eu poderia mergulhar mais
E se um dia eu te faltar
O meu canto vai
O meu canto vai