quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Um dia

Como foi o seu dia?

Gostaria de começar dizendo que encontrei abertas todas as portas. Fui à igreja e, sim, tive a completa absolvição. Os meus pecados foram motivo de piada, os meus trocados foram suficiente para, em casa, num fluxo leve, ser envolto pelas páginas corridas em horas muito bem gastas num infindável ethos liberdade. Eu tive o meu socorro imediatamente, me parecia algo duradouro. Eterno? Quem sabe?

O rio da minha vida se definiu assim agora: qualquer limite só é imposto pelo meu coração que vaga pelas praças cheias de som e fúria. O canto dos passáros norteou os meus pensamentos, só assim pude me sentir seguro neste dia claro em que a cidade, implacável, já não me culpava pelo meu constante estado ébrio que diz sempre sim em solidariedade aos meus desejos mais profundos. De uma forma incrivelmente diferente não tentou me enquadrar, me emoldurar, como um quadro que representasse a realidade.

Que realidade?

Os múrmurios nas filas, as olheiras, os olhares, a cegueira completa e irremediável?

Não quiz mais pensar nisso. Pensei no fogo dos olhos vivos e entregues a um oceano numa tarde qualquer enquanto os homens trabalhavam.

Aconteceu algo diferente hoje: eu não precisei dissimular o meu amor e o deslumbre que me causa uma febre delirante fazendo ceifar cada vaso de sangue desse corpo alimentado por uma raiz firmada num chão infinito.

Eu vi tanta verdade naquele rosto ingênuo. Logo o dia perdeu aqueles tons degradês de nostalgia e foi composto por um amarelo forte, formado por uma compilação de micro-tons do fundo dos sonhos. Duarante a noite eu poderei dormir em paz, despertar e voltar para o mesmo sonho tanto quanto quiser.

O meu dia foi inexplicavelmente diferente, foi algo como perder a cabeça, mas os meus sentidos eram ageis e eu podia percerber tudo que estava obscuro, tudo que me foi velado, toda a farsa em que eu vivia, vi isto plenamente e como uma inigualável nova verdade.