quarta-feira, 24 de abril de 2013

Sabe uma das poucas alegrias que um cara ainda pode gozar?
Ter a consciência do quanto ele foi moldado
Para ter uma finalidade prática na vida coletiva
E ainda assim estar nos lugares pisando cada milímetro
Dos seus pés no chão, sorrir distraidamente,
Bater um papo com os amigos, ter grandes amigos para rirem de você
E fazer você lembrar que tudo não passa de uma grande bobagem
Tomar uma cerveja gelada, comer e ficar satisfeito
É qualquer momento em que você se deixa levar e não fica dentro de nenhum invólucro
Ideológico, você é apenas você e todos vão te achar
Lindo, mesmo aqueles mais recalcados que não tem coragem de assumir,
Nem com o olhar, o quanto você está radiante, mas dentro deles, saiba:
Mora a inveja disso que você tem
De verdade é onde você esquece de tudo e principalmente:
É onde o mundo não pode te alcançar nem te ferir.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Devoção-subversão


A devoção é a redenção
E o declínio de um homem,
É a arma do negócio
Do pacto de consórcio de alma
Mas a minha está a salvo
Porque é toda sua.

Rondando a casa dela
Sem que ninguém acordasse
Olhou-a o mais firme nos olhos
Pousou na sua face e encarou aquela respiração
Buscou enigmas no fundo da pele
Sobrepostos entre os dedos
Ou em alguma atividade não explicita da alma
Puxou uma cadeira
Para a esperança
Esperar.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

"PLANTAÇÕES EM ESTUFAS

Aqui estão as abelhas que vão fazer a diferença em sua plantação em estufa, como essas abelhas possuem o ferrão atrofiado, elas não picam, e qualquer um pode trabalhar com elas, são mansas e amáveis. Não sendo necessário usar nenhum tipo de proteção. "

(Anúncio de um site sobre criação de abelhas)


I

Eu vivo pela imponência desnorteante das luzes
De uma cidade viva e real 
Com pessoas reais, necessitadas de
Aperitivos que aos poucos
Vão erradicando suas fomes
Enquanto um punho cerrado
Se choca contra uma grande mesa
E o garçom continua espirituosamente
Chacoalhando  as bebidas sobre a palma da sua mão

Os meus olhos, que ardem diante de tanta luz, 
Constantemente embriagam-se dos sentimentos
Do meu coração e o meu corpo febril está de acordo com um mesmo ideal
O que, ainda assim, não impede essa imenso clarão onírico de me cegar  


II

Beijo com a insistência do louco o hipotético do amor
Como o pólen desperdiçado todas as tardes
Em uma única e constante flor, beijada pela boca de uma abelha operária
Que tenta fazer o seu mel na solidão de esperar em silêncios horizontais
Como que guardasse no vértice dela mesma a ultima possibilidade
De fazer um favo de mel dourado como o sol
Ou uma gota espremida de esperança

Belas paisagens de campos de muitas flores

terça-feira, 16 de abril de 2013

Dissertação escolar

Depois de uma notícia não muito agradável, fui ao banheiro me tocar um pouco. Graças a Deus, aquele momento em que tudo se desliga aconteceu, e o mais importante: sem que eu notasse me senti, por um instante, um pouco melhor. Como se o sublime estivesse ao nosso alcance. Mas essa palavra? Sublime? Ela não deveria estar fora daqui? Como eu fui capaz de usar uma palavra tão iluminada? Não se encaixaria naquela situação, isso não pode emblematizar a vida, de maneira nenhuma.

 Eu me tocando de uma forma tão gostosa, enquanto sabia que o mundo era uma avalanche. Me sentia mais conectado com todos os seres humanos da face da terra do que nunca. Depois eu refleti que os zumbis que vagam pela cidade devem fazer a mesma coisa - e não tem nada a ver com culpa, nem piedade. Não me leia achando que sinto algum pesar por isso, é justamente o contrário -  eles são sujos   e invisíveis, e  não faço ideia de como seja a vida deles, nem tenho a pretensão de dizê-lo aqui, mas sei que eles se tocam por aí, pelas ruas, disso eu sei.

Sei também que todo o resto é ilusório. A manteiga do café da manhã, o pão de sal, o café com leite. Também o são: os lençóis que forram a sua cama, as fronhas, os perfumes nas prateleiras. O papel que as gráficas enchem de palavras e design,  a notícia que invade apressada as nossas casas e em menos de vinte e quatro horas, muito menos, cheiram pior do que peixe podre. As paredes são tão irreais e ainda assim como conseguem ser tão opressoras? Tudo isso chega as nossas mãos como se viesse por um meio mágico.

Um dia você precisa comprar uma meia e o faz de acordo com aquilo que você chama de 'seu gosto'. Eu olho atentamente para a meia furada e velha que ninguém sabe qual destino irá levar, e para a meia nova que apareceu, sem precedentes, com o intuito de dar conforto aos seus pés e me dou conta de que a vida é bem simples: você não sabe de onde vem e nem para onde vai nada. Na verdade, você é uma meia sem paradeiro aquecendo e sendo pisada  pelos pés de alguém, você é o chulé de um sistema escroto. Então, você, eu, nós, umas meias simplórias qualquer, nos sentimos no direito de parecer iluminados, achando que somos pessoas autênticas.

- Porcos otários!

...

Os zumbis não se tocam solitários nas ruas, apenas, eles  também têm necessidade de comunhão como qualquer um de nós. Há mulheres zumbis grávidas por aí, elas se cobrem em busca de calor. Eu aposto como eles se beijam nas bocas sujas, se esfregam uns nos outros, são a redenção uns dos outros, apesar de, não ser muito indicado confiar neles, pois eles são capazes de qualquer coisa para consumir pedra, eles: somos todos nós: zumbis.

 Me toco muitas vezes, assim como eu sei que fazem os zumbis da rua, o alto executivo que deixa esguichar porra no seu terno Armani, a dona de casa que se esfrega na sua máquina de lavar Brastemp quando ela está centrifugando a roupa da casa toda, o porteiro que, na sua ronda noturna pelo prédio comercial, entra nos escritórios e, só de sacanagem, se toca na sala de reuniões das multinacionais, a adolescente que roça no seu ursinho de pelúcia....


segunda-feira, 15 de abril de 2013


A verdade está aqui no trigo
Simples como a ilusão do pão
Inacabada feito a vontade
Que o vento semeia nos pastos

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Rock Rural

Esperar tanto do mundo é uma ilusão de tempos atrás. As minhas mãos finalmente começam a aquietar-se, a maneira com que adentro os recintos se harmonizou - como eu sabia que se harmonizaria -, o tempo não é mais de espera, agora é o momento de colher algo que brota com perfeição e deformidade, essa coisa  chamada: inevitável. 

O meu olhar é colocado. Os meus olhos são cachos de uvas de uma serra santa, embriagados de tudo aquilo que possa ser jornada inimaginável, por que, de alguma fonte é preciso tirar a lucidez dos polos frios da terra, para, apesar de tanto, me fazer sorrir o sol. E é só isso, mais nenhum pormenor que eu me lembre para relatar aqui.

Já ia esquecendo: não quero me casar (só se for por amor), nem me ajeitar nos estudos. Quero a possibilidade que uma varanda tem de horizontalizar a vida. Poder me esticar bastante, fazer belas caminhadas, dois dedinhos de uma prosa acesa, água caindo da torneira, e a rotina, pedra brutal, lapidada pela paciência, transformada em micro cristais de amor. Isso tudo com muita sorte, meu caro. Com muita sorte.