segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Escatológica


O mijo dele misturado com o meu deixa um cheiro de embriaguez no banheiro. Enquanto o seu pau esguicha na trama  macia do tapete embebido de lavandas, eucaliptos e pinho-sóis, esqueço que sou só mais uma puta nessa vida que me dá o troco por eu querer um fosso de liberdade.

Ele, então, dá descargas nos meus nervos  quando aciona a válvula da sua péssima mania de querer manter tudo na privacidade. Pobre homem de portas fechadas para a essência dos aromatizantes cheiro-de-flores-do-campo que perfumam, sem discernir, todos os sanitários, desde a casa rica até a estação rodoviária mais decadente da cidade!

Toda essa conversa de merda privada me dá reviravoltas no estomago e, inevitavelmente, afrouxo os botões da minha saia bem justa cor-de-vômito, tiro um espelhinho da bolsa, saco meu batom tutti frutti e saio sem lavar o meu corpo daquilo que ele chama de promiscuidade.

Sigo pelos acostamentos e fodo nas boleias sujas com animais que arrombam meu corpo, enfiam dedos imundos na minha garganta, me molham com o suor do seu trabalho e me olham com olhos dementes onde me vejo batizada pelas luzes  das estradas ao mesmo tempo em que os carros passam furiosos sem notar o esconderijo mais profundo da minha castidade.



sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Porteira

O amor é árvore viçosa e firme no chão do deserto? Ou vento que chove e duna um mar de areias secas? O que tive de minha mãe era forte e frutífero como a seiva do seu peito, o sisal do seu ventre e o jenipapeiro no cerrado do seu abraço. O que tive desse cabra era disperso, pronto para voar sobre açudes, correr a galope o vento barroso na anunciação da estiagem. (...) O amor é água e é barro; vento para secar o barro e a água para molhar o barro; barro para encher de água e acalmar a sede; água para ficar de pé e caminhar por um chão, um chão de barro, um chão de recomeço passado do pai até o filho; é um silencioso e infinito sertão visto pelas frestas de uma meditativa porteira.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Like a Rolling Stone

Se não houver um livramento eficaz desse invólucro
ao redor de mim; das marcas, das manchas e dos sinais
Se é utópico ter uma vida contrária a predestinações
Se for impossível lutar contra  uma avalanche de vontades, 
vou continuar o movimento individual que se acumula desde o íntimo  
lutando e rolando morro abaixo like a rolling stone.
  

sábado, 17 de novembro de 2012

Jam psy-acústica ijexá-folk baião-heavyloaded e os harmônicos caetaneando a liberdade de ser.
Sem saber que me confesso completamente seu amigo quando rimos; sou mais homem, mais menino, correndo na highway numa alegria explícita que eu velo de cuidados para não deixar a pureza se perder no vício de uma ilusão qualquer, tentando prolongar a felicidade e a sorte de momentos em que duas pessoas apenas se transmutam. 

Banho translúcido

Tanto querer que o rio retroceda
Quanto temer a cheia furiosa das suas águas
Fará desembocar numa vida de renuncia
É como morrer sedento todos os dias num oásis
Mas a água potável  me lava por inteiro
E descama as marcas e a história em mim
Como se lapidasse uma pedra devagar e silenciosamente
Até que se desfaça toda gruta, toda casa, toda casca...