segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Segunda - feira

Eu procuro você na segunda-feira, meu amor! No final da aula de ciências de um dia quente, navego pelas ruas num submarino amarelo chamado Vênus. Vou por entre as gôndolas da cidade submersa. Te busco, Coração underground dos apaixonados!
Procuro por todos os cantos com a meta do vento, meu ensolarado sábado bolhas de respiração dos peixes: o cartão espelhado que batemos todos os dias nos pontos do sol.

Domingo

Domingo hipocondríaco, muito sono e o céu marrom-violeta. Na vitrola nostálgica,
um funk - soul antigo balança a alma. As seis da tarde me mostram a solidão
de um país aprisionado em Domingos iguais.

Por favor, não me tire a esperança
com a sua maldita segunda-feira.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Hoje acordei com folhas secas dançando dentro de mim.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Tachos

Um Deus com olhos engrenados,
Olhos da Laranja Mecânica
Tiranos cilhos emborcados
Feito uma boca armada até os dentes
Contra o mundo

Quero me refestelar no fundo quente
marrom-açúcar dos teus olhos.


- Como a vida pode ser impiedosamente doce!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Maledicências nº II

Minha palavra é amor
Amor apenas
Quando cala e reverbera
Quando ataca e quando erra

Não é metálica, precisamente cirúrgica
Mas fala do eterno não dizer da alma
Aprisionada viva em sarcófago úmido
Selado a raio com símbolos de navegações
Feitos por tiranas criaturas sem olhos
Vindas do mar negro sobre corais de ouro

O vento sopra tão escasso
Que não leva o grito estanque
Mover-se é tarefa lúgubre
Ferir a superfície dura com as próprias mãos:
O único e desesperado reverso
Do corpo d´minh´alma
Contra asfixiante prisão!

Eis que na luta submersa
A alma exausta triunfa.

Por um instante celestial:
Balé de folhas abismais

(Amar é uma conversa silenciosa
Noite escura a dentro
De mãos afagando mãos)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O Vaso

O vaso d´água sinuoso da mulher esconde as curvas que dão nos caminhos onde apenas os mais intrépidos se arriscariam a ir. O seu coração de barro precisa ser molhado todos os dias com água límpida, pois terrivelmente secaria.

Os meninos vão-se batendo os pés na poeira. O vaso do canto da sala vai parar no centro da mesa e volta a reinar entre as cadeiras, a porcelana e a seda chinesa. No primeiro pedaço de noite: a mulher, o lustre o vaso e a mesa. Ela acende uma vela para o santo, ela faz uma prece para os seus.

Seis da manhã põe-se de pé e vai logo ali no quintal buscar margaridas e um pouco d´água na cozinha, coroa o vaso com flores e encharca o seu coração de uma nova alegria.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Quando descobri o imensurável viver
Deixei de fazer contas
Descobri que não há jogo nem regras
Eu soube me jogar, eu soube o que é o mar.
Flores num canteiro
Meninos-sol correm
Entre os eucaliptos vão-
Vem madrugada ribanceira
Ribeirão, ribeirinho, rio
De carneiros em portais

(O que há em mim
Que não simula?
E o que tem em ti
Que não esconde
De olhos apurados?)

Ao despencar da aurora
Até o fim dos dias: ardente
Nas horas amargas do ser:
Noite escura, cravo e leite

No dedo do destino
A língua do mundo
Lambe a inocência.

domingo, 2 de outubro de 2011

Desatando-nos

O corte não se faz
sem morrer de vagar
por um túnel no fim
do fim de outro túnel

É a agonia de quem correu
Não para encontrar
Mas porque encontrou
A cadência da vida

Mas agora os ponteiros foram amputados
Tornando o tempo tão palpável
Quanto a camisa que eu visto todos os dias
Sem gravatas e sem nós