sábado, 26 de novembro de 2011

Recolhido num quarto coberto de fumaça, escrevendo poemas e cartas, tentando enxergar através da cortina nebulosa, indo ao seu próprio encontro e afundado em sentimentos confusos. Escreveu a carta de próprio punho, assinando: F.F. O envelope lacrado foi entregue secretamente durante a hora mais escura da noite.

E chovia uma chuva tamanha que o solo evaporava naquela cidade insuportavelmente quente.

Sofria de uma atordoante paixão, era hipnotizado por qualquer movimento súbito do seu amor, devotado e vitorioso, assim havia de ser: um homem sem identidade, um sujeito inexistente, oculto - belo fenômeno natural. Ensolarou. Choveu. Trovejou. Secou.

Amou e não parecia um filme como aparenta ser agora na memória, e como, quando, as palavras tentam ludibriar a realidade. Parece completamente ficcional o amor, mas ainda assim tão vivo e tão real. Nada parece ter acontecido do modo como a lembrança manifesta: bonito e alegre e triste, convencional e unicamente experimentado (nada parecia ser coscientizado: puro sentimento); um fogo que selou a imagem do seu amado no fundo dos seus olhos.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Placentário

Soluções práticas de vida levam ás decisões mais drásticas, conclusões erráticas, manuais de não viver. Tropeços em labirintos cegos, mordidas infecciosas da mandíbula tóxica da boca do mundo desses homens vis e seus mimetismos em florestas de concreto. Amar é preciso! Cuidar-se como a um sol: levar-se de mãos dadas pelo caminho de casa protegendo o peito da chuva ácida, aquecendo-o com uma xícara de chá de rosas mornas; vivendo, embora o peito esteja espremido e revirado ao avesso.

Terra, seja a mãe dos que sofrem sozinhos e amputados, só por uma noite, nessa guerra obscura do ser! Somos filhos de uma terra onírica, filhos da luz violeta, filhos das amendoeiras, dos pardais, dos rios, da chuva verde. O mar nos envolve em seu manto retornando-nos à placenta da Terra.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Chuva Verde

Quando sair na chuva tenha cuidado com tudo! Cuidado com o cheiro de terra molhada fazendo recobrar memórias de infância do fundo aconchegante de um colo materno! Cuidado com as mãos encharcadas de água da chuva deixando os dedos enrugados como repolhos da horta das trincheiras verdes numa linha brutal da vida! Se atente para não resfriar de um amor roxo quando a chuva escorrer delicadamente pelo seu rosto; tenha muito cuidado com o som que a chuva faz e com os seus contornos te puxando feito uma correnteza viva. Cuidado, mas muito cuidado mesmo! Você pode se dar conta dos poços da sua alma enquanto a chuva te lava por inteiro.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Os meus sete anos vezes setecentos de azar dão-me a permissão de transitar por aí. Aprendo o lado obscuro do amor nas calçadas sujas com putas, bêbados, devassos e doentes.

Veja a flor e o sangue nas mãos do homem.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Existe uma camada ruvinhosa em mim
Um olhar torto diante da vida sem cor
É quando eu rio um riso ácido do mundo
São minhas pedras atiradas ao espelho
No meu próprio teto de vidro
E no teto da vizinhança à meia noite
É a porção mais criativa e fértil que tenho
É minha arte exaltada, alterada como um pau
Pulsando no cu da nossa cretinice humana
Lembrando-me que para segurar a rosa nas mãos
Eles arrancaram os espinhos um a um.
O membro navega doce
Na calada de uma espera
Do tesão guardado
Querendo virar gozo
Hálito, pelos, suor, pernas
Uma cama onde a gente se desfaça
E o tempo seja de horas bem eretas.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Pavão

A Ti, o meu reverso que nem é verso
Minha re - volta debaixo da sombra de um coqueiral
Antítese do amor: lágrimas retorcidas e
Sorrisos estendidos ao sol para retirar o mofo da alma
O meu total deszelo com as mentiras que foram ditas por você
Refresca a minha carne banhada em rios caudalosos.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Criação

Um antídoto contra a falta espinhosa de jeito
Suplicamos sorrisos de meninas
De filhos e filhas de Oxum
Exigimos a cura contra a bancarrota do amor!

Nas ondas do rádio e das TV´s
Num mesmo instante magnético
Veremos a lua cheia mística numa tela
Com o seu rosto sedutor de anjo caído

As cercas foram erguidas em buracos rasos
Que o vento, o sal, o mar desfazem ávidos
Andorinhas da tarde nos levantam pelos braços
Na direção exata do norte laranja
Na ponta do indicador nascem filhas de andorinhas azuis