terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

As ondas

Não há nada latente, apenas ondas paradisíacas de sol nos cabelos. Sobre as ramagens dos olhos úmidos o frescor das primeiras gotas de um amanhecer tácito. No percurso da boca corre um rio de palavras macias... mornas... matinais... com o cheiro da brisa do mar e o som do canto das sereias ressoando em conchas alvas que te levam a mergulhar cada vez mais fundo até o limite de onde tudo é impulsionado.

Um lugar protegido por tigres indomados e pássaros sagazes; de onde surgem as contrações que produzem as ondas na beira da praia: a mãe das marés dos nossos sentimentos. Há de se mergulhar fundo entre as pedras e enfrentar os corais do medo de achar-se um pouco perdido. Cavuncar com as próprias mãos a lama que asfixia os nossos pulmões e queima os nossos olhos para no fim descobrirmos que há um enigma indecifrável, mas, ainda assim, ficar admirado com a força que jorra e impulsiona as ondas de enxaguar toda a praia com àguas coadas pela areia, àguas tão límpidas que fazem chorar os olhos embebidos de luz.

Assim como não se vê parte da lua, fica obscura uma banda dos nossos corações: baú que guarda saudades (saudade de uma casa envelhecida pelo salitre, de um quintal onde há um pé de maracujá, de guarda-chuvas, das tuas costas, tuas mãos pequenas e ásperas...) rios que constantemente derramam dentro de nós. Nossos medos habitam este lugar, nossas madrugadas insones habitam esta casa. Aí está o quarto onde os adultos nos punham e puniam, de onde só saíamos quando tínhamos consciência do porquê de estar ali.

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