sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A hora da sessão coruja

Nunca foram juntos ao cinema. Definitivamente o amor deles dois não era do tipo institucionalizado, estava mais para um happening. Não é que eles achassem que não fosse durar, mas a vida deles era cheia de agito. Havia também doçura e companheirismo, mas o cotidiano beirava um filme Junkie com cenas de sexo no banheiro, muitos cigarros e dois caras acordando todas as manhãs com os cabelos compridos embaraçando-se. A idealização mais adolescente e mais gostosa do amor. Eram sempre duas canecas de café, dois pães, duas tortas, dois cigarros, duas baforadas, um trançar de pernas e braços feito um polvo mergulhado no oceano que era aquela cama, um balé de corpos magnetizados movendo-se em busca de paralelos perfeitos todas as noites num teatro abandonado, uma viagem multidimensional na terra dos sonhos mais bonitos. Um delicioso não ter o que fazer. Matavam as aulas sem procurar perdas ou danos. Brigas tolas com egos mortalmente feridos quando, num piscar de olhos, as palavras duras eram dissolvidas em copos de cerveja (nem sempre eram). Eram as pessoas ideais, um pro outro, pra viver todos os clichês amorosos. Tinham segurança total neles dois pra perder completamente a dignidade. Eram amantes, acima de tudo. Pra um dos dois cabeludos, o outro cabeludo era, muitas vezes, como um irmão mais novo que emprestava uma grana pro cigarro; alguém que lhe fez criar coragem de usar calças extremamente apertadas; alguém rodeado de segredos, era uma loucura pertinente, permitida. Veio inevitável primavevra e um sol brilhou fugaz. Eu apago a luz; às vezes penso naqueles dois e me pergunto por onde eles andarão.

Final alternativo: Eu apago a luz, fecho os olhos e apenas durmo.

2 comentários: