sábado, 26 de novembro de 2011

Recolhido num quarto coberto de fumaça, escrevendo poemas e cartas, tentando enxergar através da cortina nebulosa, indo ao seu próprio encontro e afundado em sentimentos confusos. Escreveu a carta de próprio punho, assinando: F.F. O envelope lacrado foi entregue secretamente durante a hora mais escura da noite.

E chovia uma chuva tamanha que o solo evaporava naquela cidade insuportavelmente quente.

Sofria de uma atordoante paixão, era hipnotizado por qualquer movimento súbito do seu amor, devotado e vitorioso, assim havia de ser: um homem sem identidade, um sujeito inexistente, oculto - belo fenômeno natural. Ensolarou. Choveu. Trovejou. Secou.

Amou e não parecia um filme como aparenta ser agora na memória, e como, quando, as palavras tentam ludibriar a realidade. Parece completamente ficcional o amor, mas ainda assim tão vivo e tão real. Nada parece ter acontecido do modo como a lembrança manifesta: bonito e alegre e triste, convencional e unicamente experimentado (nada parecia ser coscientizado: puro sentimento); um fogo que selou a imagem do seu amado no fundo dos seus olhos.

2 comentários:

  1. "Parece completamente ficcional o amor, mas ainda assim tão vivo e tão real."
    Cada vez que falo de amor em poesia me sinto mais distante do real, e até mesmo isso, esse escapar de realidade, configura o sentimento, a forma de sentir. A falta do tato vem mais aparente e tudo se desfaz em sombra. Falar de amor pra mim é falar de um parto não vivido. É até provavelmente dar fim a todas minhas expectativas de segurança. É me tirar dessa cápsula temporal a qual me sinto preso. Adorei o texto, Paulinho. ♥

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  2. Muito grato, Rafa.
    Misterioso, ficcional... o amor é a maior substância pra vida. é o que eu mais preciso sempre.

    Grande abraço.

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